Essa estrela que é símbolo do Verão está mais forte que nunca. Mais a mais agora, que me encontro a uma latitude mais reduzida, mais perto do equador. Essa proximidade já se sente na pele, que começa a bronzear e no estado de espírito também, embora haja quem não acredite nisto; mas factos são factos e é verdade que a taxa de infelicidade e suicídios nos países nórdicos é mais elevada graças aos dias taciturnos e frios.
Frio foi o que eu menos senti na minha estadia de uma semana pela mouraria, como os nortenhos gostam de a denominar. Entre terras algarvias, bafos de ar quente e uma alegria acolhedora passavam por mim, como por muitos turistas que escolhem o Algarve, ou melhor, Allgarve como local de eleição para as suas férias balneares.
Ontem decidimos deixar o local de sempre, e o raio de meia dúzia de quilómetros a que estou habituado a galgar em Loulé, e fomos em direcção a Lagos e à ponta Ocidental do sul português. Aqui a paisagem permanece mais ou menos intacta e virgem, sem aquelas atrocidades de tentativas de urbanismo e construções excessivas em cima da linha de costa, desfigurando todo o seu esplendor natural. (...)
O carro com a família lá instalada (...) parou por fim na praia do Camilo e em Ponta da Piedade. Ambos locais merecedores de estarem na capa de qualquer livro de Geologia devido à sua beleza de substracto de areias e arenitos, tendo em volta a conhecida terra vermelha e vegetação característica, pelas formações geológicas enormes, falésias, cabos, saliências e reentrâncias, comparados somente aos Doze Apóstolos na Austrália.
Após algumas fotografias e de se observar o panorama lá do topo, o João teve a excelente iniciativa de andarmos de barco para conhecermos melhor aqueles recantos. O condutor de idade avançada e com a pele, face e olhos tomados pelo mar, parecia saber aquele caminho por entre rochas e rochinhas, calhaus e blocos de areia, de cor e salteado.
A pequena embarcação metia-se por entre grutas e buracos subterrâneos e navegava numa água límpida, azul cristalina e verde esmeralda por vezes. O velho guia indicava-nos rochas baptizadas com determinados nomes bizarros, que uma vez que os vislumbrávamos e que percebíamos o porquê desses nomes, gostávamos mais de ali estar. Toda essa viagem permitiu-nos ver uma paisagem divinal e pura, que devia de ser visitada por todos os portugueses que dizem que o seu pais é aborrecido, horroroso ou que não presta. (...)
As férias vão agora a meio gás e há ainda muito para vir. (...)
Estou agora no comboio com efeito pêndulo em que a maioria diz ser provocador de náuseas, enjoos e mau estar. A mim provoca efeitos completamente opostos, uma vez que até gosto de andar sob carris..
No lugar 56, carruagem 3 do Alfa Pendular com sentido a Campanhã, sinto boa disposição, pondo à parte a má posição, tranquilidade e uma certa nostalgia. Vêm-me à cabeça memorias deste ano que passou e de muitos outros que antes deste passaram, principalmente na altura de veraneio. Reflicto no passado, centro-me no presente e calculo um pouco do que irá de vir, enquanto percorro entre postes a paisagem do meu país.
Segue-se uma panóplia de sensações, experiências, descobertas e locais nesta expedição. Por enquanto despeço-me deste canto do país que dá mão ao oceano Atlântico e é Europe’s West Coast, a que os outros lhe chamam de Allgarve.